quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Que onda, que festa de arromba

Quem diria, não é mesmo? Quem diria, que um dia encerraríamos isso aqui com pontos finais de gotas de sangue. Muitos diriam desnecessário. Outros diriam que foi bom isso ter acontecido agora, e não depois. Enfim, o que aconteceu é que o ser humano mostrou toda a sua potencialidade de provocar o absurdo, e de mexer com outros seres humanos. Mostrou que é desumano, pois espera que alguém que é gente comporte-se como máquina. Acabou sendo o mais humano dos seres: aquele que é capaz de causar a catástrofe, com incrível poder de destruição, capaz de estragar simplesmente tudo! Quer algo mais humano que isso?

-Escuta aqui, amiguinha. Está vendo aquela moça ali? Vá até lá, e ponha o pé na cadeira dela!

-Mas por que eu deveria fazer isso, meu Deus?

-Não conteste, apenas obedeça! Você não enxerga? Essa mulher é uma crápula, farsante, infame, e merece tudo de mal. Daqui até o final disso tudo, estragaremos sua vida!

-Sim senhora! De pleno acordo. Vamos formar um grande complô contra esse ser, e sabotá-lo até o seu último momento aqui!

-HAAAHAHAHAHAHAHAAAA










Encerro essa página branca com uma lágrima, uma gota vermelha, que antes de chegar em meus olhos, passou por maus bocados nos meus tecidos viscerais. Uma amostra de mim, que me tem acompanhado por muito tempo, carregando consigo minhas consequências genéticas e imunológicas. Uma gota, que se deixa absorver pelo papel, para mostrar o quanto, nesses dois meses, fui víscera, suor e espírito.

Nos vemos na próxima, beijos




A primeira jornada estava encerrada. Era chegado o momento de avaliar as habilidades de cada um. Seriam dois dias: o primeiro, aquele, e o segundo e último. Tratei de registrar cada coisa, afinal, serviria de material para pesquisa depois. E, como de costume, se formou na turma aquela velha comunidade emocional que dificilmente me atinge "Oh, nossa, como fomos maravilhosos!". Até as costureiras teciam elogios. Eu, sinceramente, não fui tão tocado assim. Mas é interessante ver que cada um ali traz para o grupo uma agulha com uma linha muito extensa, e que todos juntos podem virar uma verdadeira amostra de cetim vermelho. O desafio estava lançado: no segundo e último dia de tortura, não decepcione, sua velha louca!

Reprise



As costureiras fiavam, fiavam, e nada de o tecido sair bom. As cores eram boas, as linhas eram ótimas, mas não havia harmonia! Em um momento, a gostura era em cetim, e no outro, em TNT! Cansadas dessa enrolação, elas começaram a puxar tiras imensas desse tecido. A missão era muito simples: a costura seria humana. As linhas apontavam os caminhos, e as pessoas teriam que percorrê-los, por bem ou por mal, lutando contra a gravidade e a falta de equilíbrio. Quando dei por mim, havia uma sandália na minha mão, e eu a batia violentamente no chão. Uma voz dentro de mim dizia "Mas Haroldo! Por que fazes isso? Por que tamanha violência?" E a cada tapa, eu respondia "Isso é arte, meu irmão, isso é arte."

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Adestrada


O corpo continua uma merda. Queria ser como Tales, a raposinha do sonic, que enrola suas duas caudas e sai voando por aí. Daqui a pouquinho, a qualquer momento, terei a tarefa de esconder uma raposa. A relação de amor entre homem e animal se dará quando a raposa, tal qual um cão, se mostrar dócil, e se deixar abrigar por um lençol encardido e rasgado, que salvaria sua vida. Nosso contato deixou marcas em minha coxa esquerda, e em meus olhos. A música seria pura improvisação. Vamos lá? Vou começar assobiando... lentamente... e quando todos menos esperarem... ÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ!

Correndo atrás do bonde



Peguei o barco andando. Um barquinho de papel, solitário, no oceano... Corri atrás do barco. Andei sobre as águas. Surfei em pêlos brancos, em nove ondas seculares, vi a lua, e por ela me apaixonei. Mergulhei com toda a dignidade de cada gota de saliva, no cangote de uma gueixa, e deixei meus lábios se esbranquecerem de pó de arroz. Tirei um corte de seu cetim, costurei mil kimonos e dancei junto com quilômetros de tecidos de todas as estampas em branco e vermelho.

Aí eu entrei no barco.

E vi que as equipes já estavam formadas. O meu corpo estava mais desengonçado do que nunca. O equilíbrio passava longe. Não conseguia parar de pensar, caramba, chega logo na terra firme!

domingo, 21 de setembro de 2008

Folha em Branco

Vazio...























































Durante uma semana, tive que desligar o botãozinho do teatro e ligar o da Publicidade, totalmente. Muitas imagens foram construídas na minha ausência, inclusive a que eu mais vou precisar - a mulher. Enquanto isso, eu estava tendo a maior ressaca da minha vida.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Partes



O corpo estava disposto diante de nós. Frio, gélido, vibrante. Nunca tínhamos visto um cadáver tão estranho. As unhas eram pontudas e afiadas, as orelhas peludas, e os olhos puxadinhos. Sua boca estava aberta, e dentro dela havia uma estranha pérola. Podíamos ter começado com um sapo, mas não! Nós, jovens microbiologistas inexperientes tivemos que encarar esse desafio de forma fria e sanguinolenta. Comecei fazendo o primeiro corte. Havia bastante sangue ali, bastante vida, mas nenhuma vontade de escorrer. Fomos retirando órgão por órgão. Mas havia uma dificuldade muito grande em identificá-los.
À medida que o estudo foi crescendo, fomos criando um certo afeto por aquela pessoa. Ficávamos tentando imaginar quem, de fato, teria sido ela. Decupando parte por parte de sua estrutura física, tentando desvendá-la, até que vimos que não conseguiríamos. O trabalho era difícil demais para nós. Não haviam os recursos necessários. Então, resolvemos colocar asas na imaginação, e tornar tudo aquilo uma obra de arte.
Foi doloroso, mas fomos até o fim. O cadáver estava aberto, como uma bolsa vazia, uma folha em branco. Começamos o trabalho cortando-nos uns aos outros e tirando partes de nossos próprios organismos. Um coração, um cérebro, um olho e duas genitálias, colocamos tudo lá dentro, e costuramos a bolsa. Nossas dores eram muito fortes, sentíamos que íamos morrer lentamente. Nos abraçamos enquanto deixávamos o sangue jorrar.
O sangue foi descendo, e cada vez mais ficávamos fracos por causa da dor. Todos já havíamos entregado os pontos, quando percebemos que as feridas começaram a se fechar. Estávamos sendo curados! Era inacreditável. Quando finalmente nos levantamos, ficamos estupefatos: o cadáver havia sumido.